Era uma gélida madrugada do inverno de 1994, não recordo a data, eu já havia lido o suficiente a respeito para saber que não morreria de overdose e no ritmo que minha vida andava já não me importava tanto com isso, um amigo de um amigo conseguiu pra gente, pagamos bem mais barato do que imaginávamos - será que é tão barato porque não paga imposto?
Fomos com o Fusca do meu pai até um balneário abandonado, ninguém nos incomodaria lá, meu coração batia nervoso, coloquei uma fita K7 do álbum Facelift do Alice in Chains e meu amigo mais velho começou a confeccionar o baseado, não vou citar nomes, mas estávamos entre quatro, ninguém havia provado ainda.
Havíamos recebido uns conselhos de como fumar, alguma história sobre “prensar” a fumaça que me fez tossir um monte... Mas deu certo.
Antes da música Love, Hate Love acabar eu já estava vendo o mundo de uma forma totalmente diferente, é uma sensação inexplicável... A música parecia à melhor jamais composta, eu conseguia ouvir separadamente cada instrumento e depois de acompanhar a linha de um instrumento era como se eu pudesse voltar no tempo para ouvir o que o outro havia tocado naquele mesmo momento.
Um vento gelado, um mau pressentimento, era como se eu pudesse sentir que algo ruim estava prestes a acontecer, vi uma luz, eles não acreditaram, gritei para que apagassem a ponta que ainda estava rolando, mas não me deram ouvidos, estavam tendo um inexplicável ataque de riso, não conseguiram parar de rir até que o carro estivesse próximo demais para que tivéssemos qualquer reação, aqueles faróis com luz alta apontados para nós eram como dois sóis.
Apenas rezávamos para que não fosse a policia, mas as orações de quatro ateus não tem muita força cósmica, assim que a porta abriu um maldito porco saiu do carro já com uma arma apontada para nós, logo outro saiu do carro também.
Naquele momento em minha cabeça tive a sensação que minha vida acabou, me pegariam com droga, seria tachado como traficante, seria preso, meus pais ficariam sabendo, perderia meu emprego e toda minha vida resumiu-se a uma gigante bad trip.
Eu não vi, mas quem estava com a ponta a colocou na boca e engoliu naquele momento, eles disseram reconhecer o cheiro, nos revistaram, procuraram no lugar, no carro, nos trataram rudemente e não encontraram nada e mesmo pelo nosso estado perceberam que éramos apenas usuários, e na época as leis com os usuários eram mais brandas... Talvez minha vida não fosse acabar desta vez.
Foi quando aquele maldito porco encontrou uma quantidade enorme de cocaína dentro do Fusca, não vi de onde aquele maldito tirou aquilo, mas tenho certeza que implantou para nos incriminar, eu não estava entendendo mais nada, o outro puxou o cassetete e começou a nos agredir, nos chamando de traficantes, o primeiro golpe já derrubou um amigo, ele veio para cima de mim, não sei da onde tirei forças para me defender dos golpes, eu ouvi o outro falar que nós iríamos apodrecer na cadeia e... Ouvi um tiro.
O porco que estava me agredindo simplesmente perdeu as forças e vi medo em seus olhos enquanto caia, vi sangue em suas costas e quando olho pra frente vejo o primeiro amigo que caiu nocauteado segurando um revolver apontado para a cabeça do outro porco ajoelhado diante dele.
Nunca vi alguém se humilhar tanto - ele temia muito pela vida, mas não importava, iríamos carnear aquele porco esta noite.
Meu amigo colocou o revolver na fonte dele e atirou, rápidos como o Flash pegamos um pouco da Cocaína e colocamos na narina deste ultimo caído, fizemos o mesmo com o outro e deixamos a cocaína lá entre eles, nos certificamos que ambos estavam mortos e colocamos o revolver na mão deste ultimo, dando a entender que havia atirado nas costas do outro e depois se matado, saímos de lá e fomos para nossas casas –tenho certeza que nenhum de nós conseguiu dormir aquela noite.
Só nos tranqüilizamos quando vimos no jornal à reportagem de quando acharam os corpos, assassinato seguido de suicídio na Brigada, a palavra cocaína não aparecia em nenhum lugar da reportagem, aposto que não levaram a investigação mais a fundo justamente para encobrir este possível envolvimento deles com a droga.
Depois dessa experiência nunca mais voltei a provar a poderosa erva, e nunca mais vou fazer isso...
...Até que ela seja liberada!
sábado, 27 de fevereiro de 2010
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Um desenrolar previstamente imprevisível... ^^
ResponderExcluirÉ óbvio que cada um que lê, ouve, enxerga, aprecia algo, possui suas próprias visões e interpretações... O engraçado é que ao mesmo tempo que eu pude sentir a "inocência" do personagem perante algumas coisas, houve um grande contraste com o mundo retratado... Sabe, acho que conseguir a formação deste tipo de imagem é a prova do alcance da intenção de quem escreve ou cria algo.
Parabéns, é sempre um prazer ler seus contos ^^
Um grande beijo pra ti, garoto ;*
Quanta criatividade!!!
ResponderExcluirUma inesquecivel fumada, certamente. hahaha
Felicitações meu querido!
E claro, parabéns por sua desenvoltura com as palavras.
Teu blog é um barato!
(creio que isso seja um elogio para um apreciador de baratas.)
Beijocas. =*