sábado, 12 de maio de 2012

O que eu acredito


-Creio que posso realmente provar o mundo através de meus sentidos e creio que todo ser vivo dotado de senciência pode fazer o mesmo.
            -Provando ao mundo eu provo a mim mesmo e minha relação com o mundo faz com que eu enxergue nele inúmeros determinantes para o meu agir ao mesmo tempo em que este agir passa a determinar o mundo.
            -Chamarei o agir humano enquanto determinante do e no mundo de liberdade  –valorizando a aplicação pragmática deste conceito. Um exemplo destas relações de determinação ocorreu-me no dia em que ganhei um campeonato de xadrez, o aplicar do xeque-mate foi determinante para o estádio subsequente do mundo físico no qual recebi uma medalha assim como este xeque-mate teve como determinante o exercício de minha liberdade ao ter escolhido aprender xadrez ao invés de jogar futebol. Existem outros determinantes que não envolvem o exercício de minha liberdade, mas sim da liberdade daqueles de minha espécie que me antecederam ou vivem junto a mim, como a liberdade de meu avô em ter comprado um tabuleiro de xadrez e a liberdade de meu pai em conserva-lo para que eu pudesse usa-lo.
            -Mesmo que estejamos sendo enganados por um gênio maligno ou sejamos apenas cérebros conectados a eletrodos, a relação de nexo causal entre o exercício de liberdade de diferentes pessoas continua tendo como efeito o estádio do mundo no qual ganhei uma medalha, indiferente de qual mundo possível nós acreditamos, seja aquele no qual tudo o que se passa em nossa mente é ilusão da vontade de um gênio maligno ou, entre tantos outros, aquele que o senso comum chama simplesmente de “mundo real”.
            -Assim como fica claro o quanto o meu agir livre, assim como o de outras pessoas, foi determinante para o último estádio do mundo físico do exemplo, um estádio anterior do mundo físico é sempre necessário para qualquer exercício de liberdade. Disso se segue que a existência de um mundo físico é sempre pressuposto necessário para qualquer uma de nossas ações e mesmo que o próximo estádio de existência do mundo físico, aquele que por hora chamamos de futuro e em breve chamaremos de presente, seja necessariamente determinado pelo exercício de nossa liberdade (acreditando que nenhum meteoro ou desastre natural possa nos afligir causando a extinção instantânea da humanidade), é porque nós já existimos no mundo, a existência de nossas liberdades não é pressuposto para a simples existência do mundo físico, apenas o contrário se segue.
            -Com o fim de exemplificar minha interpretação, apropriar-me-ei de um esquema conceitual metafisico que classifica o mundo físico em diferentes esferas ontológicas: Os objetos que são determinados por aquilo que venho chamando de liberdade, como o lixo, a poluição, a destruição de ecossistemas e a exploração do trabalho podem ser classificados em uma esfera que chamaremos de social ou humana. Os objetos da esfera social pertencem necessariamente a uma esfera maior que chamarei de natural ou física e se o que esta contido na esfera social tem como pré-requisito ter sido determinado pela liberdade humana, o que está contido na esfera natural tem como pré-requisito ter sido determinado pelas “leis da natureza” –cujas tentativas de conhecimento são os paradigmas sobre os quais se dá o exercício da ciência normal e embora nenhum deles tenha e provavelmente jamais venha a ter caráter de verdade absoluta, ainda assim nos permitem uma grande evolução na capacidade de manipular a natureza em nosso exercício de liberdade.
            -Por meio desta classificação percebemos que, se a esfera social encontra-se contida dentro da esfera natural, a nossa própria liberdade é determinada pelas leis da natureza assim como o exercício de nossa liberdade também determina o futuro de uma parte da natureza. Em outras palavras: Nossa liberdade é a capacidade da natureza de modificar a si mesma.
            -Eis um pequeno sistema metafísico com referencia ao Cogito cartesiano, ao empirismo, ao pragmatismo e a ontologia luckaciana¹. Qualquer enunciado cotidiano acerca da natureza última do mundo já contém em si um posicionamento metafisico, mas nossa existência não se dá em um plano metafísico, tanto menos a existência física de nosso discurso (o som das palavras ou as letras desta frase). Embora nosso discurso possa referir-se a metafisica, será sempre uma interpretação metafisica e nunca dotado de uma correspondência a qualquer verdade metafisica objetiva –se é que possa existir uma, seu alcance nos seria totalmente impossível.
            -Prova disso é que poderia reconstruir este pequeno sistema metafísico negando o conceito de, por exemplo, liberdade. Continuaria sendo um sistema metafísico, continuaria tratando do mesmo assunto e, se formulado de maneira coerente, continuaria tendo o mesmo caráter de verdade, mesmo negando posições de outro sistema que possui o mesmo caráter de verdade.
            -Em menos de duas páginas coloco parte fundamental de minhas posições filosóficas em meados do primeiro semestre de 2012.




¹LUCKÁCS, G. Prolegômenos para uma ontologia do ser social. São Paulo: Boitempo, 2010.