-Creio que posso realmente provar o mundo através de meus
sentidos e creio que todo ser vivo dotado de senciência pode fazer o mesmo.
-Provando ao
mundo eu provo a mim mesmo e minha relação com o mundo faz com que eu enxergue
nele inúmeros determinantes para o meu agir ao mesmo tempo em que este agir
passa a determinar o mundo.
-Chamarei o
agir humano enquanto determinante do e no mundo de liberdade –valorizando a aplicação pragmática deste
conceito. Um exemplo destas relações de determinação ocorreu-me no dia em que
ganhei um campeonato de xadrez, o aplicar do xeque-mate foi determinante para o
estádio subsequente do mundo físico no qual recebi uma medalha assim como este
xeque-mate teve como determinante o exercício de minha liberdade ao ter escolhido
aprender xadrez ao invés de jogar futebol. Existem outros determinantes que não
envolvem o exercício de minha liberdade, mas sim da liberdade daqueles de minha
espécie que me antecederam ou vivem junto a mim, como a liberdade de meu avô em
ter comprado um tabuleiro de xadrez e a liberdade de meu pai em conserva-lo
para que eu pudesse usa-lo.
-Mesmo que
estejamos sendo enganados por um gênio maligno ou sejamos apenas cérebros
conectados a eletrodos, a relação de nexo causal entre o exercício de liberdade
de diferentes pessoas continua tendo como efeito o estádio do mundo no qual
ganhei uma medalha, indiferente de qual mundo possível nós acreditamos, seja
aquele no qual tudo o que se passa em nossa mente é ilusão da vontade de um
gênio maligno ou, entre tantos outros, aquele que o senso comum chama simplesmente
de “mundo real”.
-Assim como
fica claro o quanto o meu agir livre, assim como o de outras pessoas, foi
determinante para o último estádio do mundo físico do exemplo, um estádio
anterior do mundo físico é sempre necessário para qualquer exercício de
liberdade. Disso se segue que a existência de um mundo físico é sempre
pressuposto necessário para qualquer uma de nossas ações e mesmo que o próximo
estádio de existência do mundo físico, aquele que por hora chamamos de futuro e
em breve chamaremos de presente, seja necessariamente determinado pelo
exercício de nossa liberdade (acreditando que nenhum meteoro ou desastre
natural possa nos afligir causando a extinção instantânea da humanidade), é
porque nós já existimos no mundo, a existência de nossas liberdades não é
pressuposto para a simples existência do mundo físico, apenas o contrário se
segue.
-Com o fim
de exemplificar minha interpretação, apropriar-me-ei de um esquema conceitual
metafisico que classifica o mundo físico em diferentes esferas ontológicas: Os
objetos que são determinados por aquilo que venho chamando de liberdade, como o
lixo, a poluição, a destruição de ecossistemas e a exploração do trabalho podem
ser classificados em uma esfera que chamaremos de social ou humana. Os objetos
da esfera social pertencem necessariamente a uma esfera maior que chamarei de
natural ou física e se o que esta contido na esfera social tem como
pré-requisito ter sido determinado pela liberdade humana, o que está contido na
esfera natural tem como pré-requisito ter sido determinado pelas “leis da
natureza” –cujas tentativas de conhecimento são os paradigmas sobre os quais se
dá o exercício da ciência normal e embora nenhum deles tenha e provavelmente
jamais venha a ter caráter de verdade absoluta, ainda assim nos permitem uma
grande evolução na capacidade de manipular a natureza em nosso exercício de
liberdade.
-Por meio
desta classificação percebemos que, se a esfera social encontra-se contida
dentro da esfera natural, a nossa própria liberdade é determinada pelas leis da
natureza assim como o exercício de nossa liberdade também determina o futuro de
uma parte da natureza. Em outras palavras: Nossa liberdade é a capacidade da
natureza de modificar a si mesma.
-Eis um pequeno
sistema metafísico com referencia ao Cogito
cartesiano, ao empirismo, ao pragmatismo e a ontologia luckaciana¹. Qualquer
enunciado cotidiano acerca da natureza última do mundo já contém em si um
posicionamento metafisico, mas nossa existência não se dá em um plano
metafísico, tanto menos a existência física de nosso discurso (o som das palavras
ou as letras desta frase). Embora nosso discurso possa referir-se a metafisica,
será sempre uma interpretação metafisica e nunca dotado de uma correspondência a
qualquer verdade metafisica objetiva –se é que possa existir uma, seu alcance
nos seria totalmente impossível.
-Prova disso
é que poderia reconstruir este pequeno sistema metafísico negando o conceito
de, por exemplo, liberdade. Continuaria sendo um sistema metafísico,
continuaria tratando do mesmo assunto e, se formulado de maneira coerente,
continuaria tendo o mesmo caráter de verdade, mesmo negando posições de outro
sistema que possui o mesmo caráter de verdade.
-Em
menos de duas páginas coloco parte fundamental de minhas posições filosóficas
em meados do primeiro semestre de 2012.
¹LUCKÁCS, G. Prolegômenos para uma ontologia do ser social. São
Paulo: Boitempo, 2010.